O próprio João Emanuel Carneiro, autor da aclamada Avenida Brasil, atual novela das 9, foi o único nome em que a Globo apostou, num prazo de 15 anos
Agência Estado
João Emanuel Carneiro é um dos responsáveis por abrir a Globo para novos autores. Seu sucesso inspirou a emissora a procurar novos talentos (foto: Divulgação/TV Globo) SAIBA MAIS Nova geração determina ritmo mais ágil à narrativa Evidência de que falta gente para tanta prosa, nunca antes na história hegemônica da Rede Globo a aposta em novos autores de novela foi tão intensa. Dos quatro folhetins que estão no ar hoje na emissora, não há um só criado por algum dos veteranos que se revezam no ar desde os anos 1970, a saber: Gilberto Braga, Manoel Carlos, Benedito Ruy Barbosa, Walther Negrão, Aguinaldo Silva e Silvio de Abreu. Lauro César Muniz, pertencente a esta geração, está no ar pela Record. Se da década de 80 até 2000 a Globo alimentou, a conta-gotas, a revelação de alguns poucos novos escritores de folhetim – caso de Glória Perez, Alcides Nogueira, Carlos Lombardi, Miguel Falabella e Walcyr Carrasco, que lá chegou já credenciado pelo sucesso em outros canais -, ao menos dez escritores ganharam, nos últimos sete anos, a confiança da direção da Globo para assinar uma novela como titular. Nesse novo grupo estão Thelma Guedes e Duca Rachid, (Cordel Encantado foi a terceira novela da dupla), Lícia Manzo (A vida da Gente), Filipe Miguez e Izabel Oliveira (Cheias de Charme) e Elizabeth Jhin (Amor Eterno Amor é sua quarta novela). E quem entra para esse seleto time sempre teve esse passo como ambição na vida? “Nunca pensei nisso, nunca trabalhei em função de assinar a própria novela”, diz à reportagem um dos mais novos integrantes dessa turma, João Ximenes Braga. Ele estreia sua primeira novela solo, Lado a Lado, próximo folhetim das 6 da Globo, ao lado da também estreante Cláudia Lage. Os dois se conheceram há alguns anos, numa das raras oficinas de roteiristas que a Globo promoveu. Cada um tinha uma história e a apresentou à direção da Globo num momento de renovação de contrato. A chefia gostou dos dois argumentos e sugeriu que ambos juntassem suas linhas. Cláudia começou a fazer novela como colaboradora, origem de 9 entre 10 dos novos talentos do ramo. Trabalhou com Manoel Carlos em Páginas da Vida e Viver a Vida. Ximenes foi colaborador de Gilberto Braga (que supervisiona a dupla neste primeiro trabalho) em Paraíso Tropical e Insensato Coração. O próprio João Emanuel Carneiro, autor da aclamada Avenida Brasil, atual novela das 9, estreou como autor em 2004, com Da Cor do Pecado, às 19 horas. E foi o único nome em que a Globo apostou, num prazo de 15 anos, para ocupar o posto das 21 horas. Antes de A Favorita, obra dele de 2008, o último autor “promovido” à faixa nobre foi Benedito Ruy Barbosa – ainda assim, por ter provado em outro canal, no caso, a Manchete, com Pantanal, que era capaz de seduzir a audiência do horário. Na semana que passou, a Globo finalmente decidiu eleger mais um profissional para o seu espaço ficcional mais caro – Carrasco, que hoje adapta Gabriela, teve uma sinopse aprovada para 2013, após Salve, Jorge, trama de Glória Perez que substituirá Avenida Brasil. A Globo demorou a perceber que a renovação de nomes não vinha acompanhando o avanço do relógio. Escrever novela é ofício que demanda mais de 10 horas diárias de expediente, e vários autores do time mais velho já manifestaram vontade de se aposentar. Além disso, dos anos 70 para cá, lembre-se ainda perdas como Janete Clair, Dias Gomes, Cassiano Gabus Mendes e Ivani Ribeiro. Autora da novela das 7 que substituirá o remake de Guerra dos Sexos, em 2013, Maria Adelaide Amaral começou como colaboradora de Cassiano e teve seu primeiro voo solo incentivado por Silvio de Abreu. Agora, lança seu primeiro discípulo, Vincent Villari, que aos 18 anos já era seu colaborador em A Muralha e assinará com ela sua primeira novela como coautor. “É claro que para um novato ter a sua sinopse escolhida, ajuda muito a indicação de um titular experiente. Nesse sentido, tanto eu (Anjo Mau) quanto o João Emanuel (Da Cor do Pecado) nos beneficiamos do aval do Silvio de Abreu”, conta Adelaide. “O plano é fazer pelo Vincent Villari o que o Silvio fez por mim.” Embora o Brasil tenha lá seus 150 milhões de técnicos de futebol e críticos de novela, fazer o time funcionar e a torcida gritar é que são elas. “Não sei por que me ocorreu agora aquela frase da Bíblia: ‘muitos serão chamados, mas poucos os escolhidos”’, diz Adelaide. E continua: “Há muitos autores – titulares ou não -, mas nem todos são realmente ungidos com o talento e a sorte do João Emanuel Carneiro. No caso dos novatos, não basta escrever bem: ele precisa de uma oportunidade de revelar seu talento, o que por diferentes fatores é um processo difícil de acontecer. Quando porém acontece, podemos nos deparar com a originalidade de Thelma Guedes e Duca Rachid, o texto primoroso de Lícia Manzo ou a explosão de inteligência e inventividade do Filipe Miguez e Izabel de Oliveira.”
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