FONTE: PATRICK HEALY
DO "NEW YORK TIMES"
Para entender por que Hollywood está começando a fazer musicais para a Broadway, basta olhar pela janela do escritório de Jimmy Horowitz, o presidente da Universal Pictures. No chão do estúdio, abaixo, está o cartaz preto e verde do musical "Wicked". A Universal é o principal investidor do musical, que, desde 2003, já rendeu US$ 3 bilhões. "Wicked" está a caminho de se tornar o empreendimento mais lucrativo da história da Universal.
"'Wicked' abriu nossos olhos para o que pode acontecer quando você tem um espetáculo que se torna perene", disse Horowitz, cujo estúdio inicialmente planejou transpor o romance "Wicked", de 1995, para o cinema --e agora prevê criar um filme a partir do musical. "Acho que não tínhamos visualizado bem como seria esse fluxo de receita."
Agora a Universal está convertendo "O Clube dos Cafajestes" em musical. "De Volta para o Futuro" pode ser o próximo. A Twentieth Century Fox pensa em dar o mesmo tratamento a "Uma Babá Quase Perfeita" e "O Diabo Veste Prada". A Sony está trabalhando sobre "Tootsie".
A temporada atual na Broadway está sendo dominada por obras que foram adaptadas do cinema para o palco, como "Rocky" e "Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas". O musical "Aladdin" vai chegar neste inverno, adaptado pela própria Disney.
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Rocky Balboa (Sylvester Stallone, à esq.) enfrenta Apollo Creed (Carl Weathers) em cena do filme 'Rock - O Lutador', de 1976 |
As adaptações para o teatro podem ser suficientemente rentáveis para que questões de originalidade sejam deixadas de lado.
Por isso, executivos de Hollywood estão tentando resolver o enigma do que é necessário para um filme virar um musical de sucesso. É uma estratégia de "pôr as mãos na massa" e uma mudança importante, após décadas em que os estúdios passivamente vendiam os direitos de filmes a produtores teatrais, que se encarregavam da maior parte do trabalho.
"Estamos examinando nossos 4.000 filmes para identificar as histórias que tenham a maior ressonância emocional --histórias que sejam próprias para serem cantadas no palco", disse Lia Vollack, chefe do setor teatral da Sony.
A maioria dos musicais da Broadway é feita de adaptações, mas queixas sobre filmes transpostos para musicais são uma tendência relativamente recente. A última queixa, do crítico de cinema do "Telegraph", de Londres, saiu no mês passado sob o título "Poderíamos, por favor, parar de converter grandes filmes em musicais?".
Mesmo assim, depender de um filme de título famoso nunca foi garantia de sucesso. Aproximadamente 75% dos espetáculos encenados na Broadway dão prejuízo, incluindo muitos filmes populares convertidos em musicais.
"Às vezes, o material não funciona bem quando transposto para o palco", explicou Mark Kaufman, um dos executivos da Warner Brothers responsáveis por empreendimentos teatrais. "Às vezes o público se queixa: 'Por que não há musicais originais?'. O que está acontecendo agora é que Hollywood e a Broadway estão tentando criar espetáculos melhores juntos."
No mês passado, a Fox anunciou uma parceria com um dos produtores mais bem-sucedidos da Broadway, Kevin McCollum. Executivos da Fox convidaram Isaac Robert Hurwitz, do Festival de Teatro Musical de Nova York, a assessorá-los em seus projetos com McCollum e na estratégia de criação de produções teatrais.
Está por trás desses acordos a percepção de que a maioria dos cineastas não sabe criar grandes espetáculos de teatro musicais por conta própria.
Executivos de estúdios dizem estar contando com veteranos da Broadway para lhes dizer, entre outras coisas, quais personagens devem cantar e, se sim, como isso deve ser feito.
"Um filme pode ter muito mais cenas que um musical, e muita coisa pode ser feita com close-ups e outros artifícios cinematográficos. Tivemos que pensar com cuidado sobre quais cenas conservar e transpor para o teatro e quais momentos poderiam ser convertidos em canções", comentou Dan Jinks, um dos produtores do filme "Peixe Grande" e que está trabalhando na adaptação musical do filme. "No filme, há uma cena em que o tempo para e o personagem principal atravessa uma tenda de circo. É uma cena fascinante." O compositor Andrew Lippa escreveu "Time Stops" para a cena, e Jinks disse que a canção "atinge o espectador de uma maneira que apenas o teatro musical é capaz ".
Pelos padrões de Hollywood, os orçamentos de musicais do teatro são agradavelmente pequenos --entre US$ 5 milhões e US$ 20 milhões, comparados com US$ 100 milhões ou mais para filmes. Os estúdios de cinema são uma dádiva para os produtores de musicais, que, de outro modo, precisam reunir dezenas de investidores.
Um teste para "Rocky", produção de US$ 15 milhões, será se o público vai aceitar outro ator que não Sylvester Stallone no papel principal. Mesmo Stallone, astro original de "Rocky" e um dos produtores do musical, reconheceu o fato. "Acho que o musical é original. Mas nós sabemos que a palavra final será dada pela plateia."
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